VAGÕES
DAS (LEMBRA)NÇAS
Na
madrugada a memória sorrateira
Deitou-se
sobre os trilhos
Lembranças...
Pena do
tinteiro derramando tinta
Docemente
delineando com esmero
Teu rosto
de sorriso afável e tímido
Escorreguei
qual criança em dias de chuva
O trem
apitava talvez a última esperança
De que em
alguma estação subirias
Na
madrugada a memória sorrateira
Deitou-se
sobre os trilhos
Lembranças...
Fostes
chegando e subindo no vagão caliente
Nosso
olhar cruzou as linhas dos tempos
Nossas
almas abraçaram-se em consonância
Aconcheguei-me
em teu vigoroso abraço
E tua pele
exalou o cheiro das hortênsias azuis
Dos botões
de cravos setembrinos
Na
madrugada a memória sorrateira
Deitou-se
sobre os trilhos
Lembranças...
Embalados
nós seguimos dançando a canção do trem
Com os
trilhos invadindo a linha do horizonte
Em
silêncio nos dissemos da saudade de outras vidas
Heranças
em nossas almas seculares
Acolhidas
no voo do destino desenhado
Lembranças
singulares heranças do passado
Apitos do
trem das lembranças... Lembranças.
Ângela
Escudeiro